O saber acerca da essência das coisas é impossível. Não existe real em si, nem verdade absoluta, nem um sentido único e fundamental que esgotaria os significados múltiplos do ser. O que se identifica como real, realidade, verdade, depende da perspectiva escolhida. Ao abordarmos o real colocamo-nos sempre segundo um determinado ponto de vista, uma determinada perspectiva, perspectiva que vai condicionar a nossa visão sobre esse real que se quer apreender (apropriar). - Não há possibilidade de escapar a este perspectivismo, ou seja, não há nenhuma possibilidade de captar o real em si mesmo. Como a escolha do posicionamento depende dos valores – interesses, objectivos – privilegiados pelo sujeito que interpreta, toda a dimensão apropriativa – toda a leitura do que é o real – é axiológica, orientada pelos valores, fundacionada nos valores. Nenhuma perspectiva, repita-se, é puramente lógica, isto é, neutra, objectiva, absoluta, independente da valorização subjectiva. Há uma distância intransponível entre os instrumentos que o sujeito possui para conhecer e o ser das coisas ou a sua identidade. Talvez se possa até dizer que o ser é a sua perspectiva. Sim, deve-se dizer.
Trecho de: Algumas Considerações Sobre " NASCIMENTO DA TRAGÉDIA" (F. NIETZSCHE) - Carlos Frazão
Texto completo: http://recantodasletras.uol.com.br/ensaios/1489851
Nenhum comentário:
Postar um comentário