quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

2010 vai pra onde nunca mais vai sair: pr'o PASSADO!


2010 foi diferente dos outros, não pelos números sincronizados, mas pelos fatos fora de sincronia, pelos instantes que se sobrepuseram, pelas sensações que desfilaram na passarela da minha vida.

Devaneios, rebeliões feitas na surdina, saudades arrebatadoras, quilos de paracetamol, litros de lágrimas, horas no twitter... -O ódio corrompendo o ócio...Não me lembro de quantas vezes explodi de raiva, chicoteei meu alter ego  e bani de mim quem não me fazia bem.Transformações já são rotineiras,o excesso de café também, só não é mais rotineiro do que as tardes levadas a ferro e fogo e essa minha mania de digitar como se estivesse datilografando na máquina de escrever que nunca tive.Passei inúmeras noites acompanhada da minha amiga insônia e dos meus contatos no messenger msn. Ora ou outra uma ida a cozinha e ao banheiro,uns copos de água e umas colheradas de obesidade, vontades loucas sanadas com banhos de chuva com trovões. Amigos foram cravados no meu peito como tatuagens, são agora eternamente parte minha e minha vida.Os destilados são realmente meus preferidos e carne gorda só a minha,o vegetarianismo já consome meu ser.Escrevi menos que minhas mãos desejavam, sofri mais que minhas leves marcas de expressão sonharam, não amei esse ano, sabe amor de corpo e alma? Nem nos sonhos.Desejar eu desejei sim, não sou de ferro. Abocanhar meus desejados é que foram outros quinhentos...Sorvi de vários copos iluminação e me preenchi com mordidas de chocolates ao leite.Filosofei como uma puta e não me arrependo de odiar tanto os humanos. Acrescentei ao meu currículo novas formas de prazer.Senti vontade de ser zen,venerar o sol,a terra, o ar e a água...Fui muito mais do que posso descrever, fiz muito mais do que consigo lembrar pra escrever, senti  mais do que consigo expressar em prosa. Ah, não tenho família!




terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Swedish House Mafia - One (Your Name) [feat. Pharrell]

A invenção da duração

Publicado em 13 de dezembro de 2010, na revista CULT.

Eduardo Socha

Ilustração Sattu 
Você está parado no trânsito às 6 da tarde. Ouve a rouquidão opaca dos motores dos ônibus, o zumbido das motos, a impaciência ocasional das buzinas. O tempo parece amordaçado como se não quisesse fluir também. Então você resolve tirar do bolso seu tocador de mp3, ajeitar bem os fones de ouvido e escolher uma faixa do álbum predileto. Sua experiência do tempo vai assumindo outra feição, e os instantes passam a se amalgamar uns aos outros com uma qualidade bastante distinta do tempo anterior. A quantidade de tempo não muda: um segundo continua um segundo, tautologia assegurada pela isocronia do ponteiro (ou display) do relógio. Mas você sente agora que os instantes se dilatam e se contraem segundo uma contingência peculiar, promovida pelo encadeamento sonoro da música. Antes amordaçado, o tempo agora corre mais rápido ou anda mais devagar, dando-lhe a certeza de que sua percepção da passagem do tempo, enquanto ouve música, não coincide com aquela enquanto ouvia apenas ruídos do trânsito. Ao contrário do que sugere a cadência fixa do relógio, você realmente não sente os instantes de maneira quantitativa e exata. Ou seja, a passagem do tempo não é vivida pela sua consciência à semelhança de um relógio, no qual uma série quantitativa, marcada pela divisão em segundos, minutos e horas estabelece previamente a equivalência de todos os instantes. Na realidade, você vive uma sucessão ininterrupta de momentos qualitativos que não são divisíveis entre si, que se misturam uns aos outros e se organizam em sua memória com um aspecto único e intraduzível.
Dito de outro modo, vivemos o tempo de um jeito, mas geralmente o pensamos de outro: esse enunciado, banal apenas na aparência, deu esteio a paradoxos reincidentes na história da filosofia. De fato, estamos condicionados a pensar o tempo como uma dimensão quantitativa, cujos elementos internos são homogênos e definidos de antemão, o que nos permite balizar o tempo por meio de segundos, minutos, horas, dias, meses, anos e outras unidades de medida, conforme a conveniência da nossa necessidade particular. Assim, por força do hábito e, mais do que isso, por imposições práticas e fundamentais de sobrevivência, identificamos o tempo com uma linha sequencial de eventos. Consequentemente, construímos instrumentos e técnicas a fim de mensurá-lo, orientando nossas atividades partindo de segmentações apropriadas, seja no uso do relógio de césio, da clepsidra, do calendário, do azimute do sol ou do ciclo das marés.
Contudo, no interior de nossa experiência vivida, sentimos o fluxo do tempo como uma multiplicidade indivisível e heterogênea, que a cada instante se altera, se dilata, se contrai, reconfigurando instantes já passados, criando expectativas para instantes futuros. Por maior que seja nossa capacidade de antecipação, vivemos sob a torrente criadora da imprevisibilidade e da mudança, o que não nos impede de agir e pensar com regimes específicos de previsibilidade. Tal constatação, que sentimos na experiência mais trivial do nosso dia a dia, poderia ser finalmente resumida assim: os instantes, em instrumentos como o relógio, são sempre iguais entre si; quando vividos, são sempre diferentes.
Fácil na aparência

Reconhecemos desde já, portanto, duas modalidades para definir a noção de tempo. Por um lado, há o tempo considerado em uma dimensão quantitativa, tempo que pode ser medido, representado conceitualmente, submetido a cálculos e previsões: o tempo objetivo que, afinal, não depende de nossa consciência nem de nossa situação particular. Por outro, há o tempo considerado como fluxo qualitativo, íntimo, ligado aos estados internos da nossa consciência e, por isso, refratário ao cálculo e ao conceito: o tempo subjetivo que corresponde à efetiva passagem dos instantes nas nossas diferentes situações de vida. Não se trata de dualismo, mas de duas faces distintas para compreendermos com maior precisão aquilo que designamos singularmente pela palavra “tempo”.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Rapte-me camaleoa - Caetano Veloso





Rapte-me camaleoa
Adapte-me a uma cama boa
Capte-me uma mensagem à toa
De um quasar pulsando lôa
Interestelar canoa...

Leitos perfeitos
Seus peitos direitos
Me olham assim
Fino menino me inclino
Pro lado do sim...

Rapte-me
Me adapte-me
Me capte-me
It's up to me
Coração
Ser querer ser
Merecer ser
Um camaleão...

Rapte-me camaleoa
Adapte-me ao seu
Ne me quitte pas...