domingo, 21 de setembro de 2008

Nietzsche, Friedrich
Muitas vezes mal interpretado como filósofo, ora em função de seu estilo poético, ora devido à exploração pelo nazismo de certos aspectos de seu pensamento, Nietzsche, na verdade, foi um dos críticos mais agudos da religião, da moral e da tradição filosófica do Ocidente. Nessa condição, influenciou filósofos, teólogos, psicólogos e escritores do século XX.
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844 em Röcken, na Saxônia prussiana. Filho e neto de pastores protestantes, perdeu prematuramente o pai em 1849 e ficou aos cuidados da mãe, da avó e da irmã mais velha. Em 1858 obteve uma bolsa de estudos para a escola de Pforta e em 1864 ingressou na Universidade de Bonn, para estudar teologia e filologia. Transferiu-se em 1865 para a Universidade de Leipzig, por indicação do mestre Friedrich Wilhelm Ritschl, graças a quem, ainda aos 25 anos, Nietzsche foi contratado pela Universidade de Basiléia como catedrático de filologia clássica.
Nessa fase, compôs obras musicais à maneira de Schumann, fez amizade com Richard Wagner e conheceu a filosofia de Schopenhauer. Em 1870, durante a guerra franco-prussiana, Nietzsche serviu como enfermeiro voluntário e um mês depois, muito doente, teve de voltar a dar aulas. Em 1872 publicou Die Geburt der Tragödie aus dem Geiste der Musik (O nascimento da tragédia no espírito da música), que antecipa as linhas essenciais de seu pensamento e tornou-se um clássico na história da estética. Nesse livro, Nietzsche sustenta que a tragédia grega teria surgido da fusão de dois componentes: o apolíneo, que representava a medida e a ordem, e o dionisíaco, símbolo da paixão vital e da intuição. Sócrates, ao impor o ideal racionalista apolíneo, teria causado a morte da tragédia e a progressiva separação entre pensamento e vida. As dez últimas seções constituem uma rapsódia sobre o renascimento da tragédia a partir do espírito da música de Wagner.
Em suas obras seguintes, como Unzeitgemässe Betrachtungen (1873-1874; Considerações inatuais), em que exalta o pessimismo de Schopenhauer, e Menschliches, Allzumenschliches (1878; Humano, demasiado humano), em que se mostra convertido ao Iluminismo e faz os primeiros ataques à moral cristã, Nietzsche expõe algumas de suas idéias mais contundentes, desenvolvidas ainda em Die Fröliche Wissenschaft (1882; A gaia ciência), Jenseits von Gut und Böse (1886; Para além do bem e do mal) e Zur Genealogie der Moral (1887; Sobre a genealogia da moral), em aforismos brilhantes e demolidores.
Com freqüentes e fortes dores de cabeça, enxergando pouco, o filósofo foi obrigado a aposentar-se. Daí em diante levou vida itinerante e de isolamento crescente na Suíça, na Itália e na Riviera francesa. De 1883 a 1891 publicou as quatro partes de sua obra principal, Also Sprach Zarathustra (Assim falou Zaratustra), de estilo bíblico e poético, entre o dos pré-socráticos e o dos profetas hebraicos. Sob a máscara do lendário sábio persa, anuncia sua filosofia do eterno retorno e do super-homem, que derrotariam a moral cristã e o ascetismo servil. O livro póstumo Der Wille zur Macht (A vontade de potência) organizado pela irmã, Elizabeth Förster Nietzsche, reúne arbitrariamente notas e rascunhos, nem sempre fiéis às idéias do autor. É autêntica, porém, a autobiografia espiritual Ecce Homo, escrita em 1888.
O vigoroso espírito crítico de Nietzsche incidiu especialmente sobre a ética cristã: para esta, o bom é o humilde, pacífico, adaptável; e o mau é o forte, enérgico e altivo. Para Nietzsche, essa é a moralidade tanto de senhores quanto de escravos. O valor supremo que deve nortear o critério do que é bom, verdadeiro e belo é a vontade de potência: é bom o que vem da vontade de potência, é mau o que vem da fraqueza. O homem aspira à imortalidade, mas esse conceito nada significa, já que a realidade se repete a si mesma num devir que constitui o eterno retorno. O homem só se salva com a aceitação da finitude, pois se converte em dono de seu destino, se liberta do desespero para afirmar-se no gozo e na dor de existir. O futuro da humanidade depende dos super-homens, capazes de se sobrepor à fraqueza, e não da integração destes ao rebanho.
Em janeiro de 1889, Nietzsche sofreu um grave colapso nas ruas de Turim e perdeu definitivamente a razão. Ao ser internado em Basiléia, diagnosticou-se uma "paralisia progressiva", provavelmente em conseqüência de infecção sifilítica contraída na juventude. Passou os últimos dez anos de vida na casa da mãe e, com a morte desta, na da irmã. Nacionalista alemã fanática, Elizabeth escreveu volumosa biografia sobre o irmão em que, a serviço dos ideais chauvinistas, lhe deturpou os fatos biográficos e as opiniões políticas, atribuindo caráter nacionalista às investidas de Nietzsche contra os valores cristãos e seus conceitos de vontade de poder e super-homem. Nietzsche, na verdade adversário do nacionalismo e do anti-semitismo, morreu em Weimar, em 25 de agosto de 1900.

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